Perceber o rio. Essa é a proposta da exposição Confluências, organizada pela professora Estrela Santos, em exposição na Galeria Deart do Departamento de Artes da UFRN, que segue até sexta-feira, 22. Diversas instalações dispostas na sala levam o visitante a um passeio visual e sensorial no principal manancial de Natal, responsável pela origem da cidade e pelo nome do Estado.
A ideia é fazer as pessoas olharem para o rio com o máximo de olhares possíveis, sobretudo o afetivo. Em uma das experiências, a pessoa venda os olhos e põe a mão em caixas nas quais estão a representação dos extratos encontrados no rio. A design gráfica Jéssica Mendes experimentou a sensação e viveu três momentos distintos, medo, asco e alívio ao sentir a fluidez da água entre seus dedos. "Quando chegou na água, deu até vontade de tomar banho.", brincou.
Residente na Zona Norte, Jéssica atravessa o rio todos os dias, contudo, confessa que nem sempre presta atenção. Mas ela não é a única. A maioria das pessoas que passa pela exposição traz a mesma confissão, não por desprezo, mas pela naturalidade de estar no mesmo espaço.
Em outra sala, vídeos ampliam essa possibilidade de proximidade com o objeto observado. Imagens fortes mostram a preocupação com o alto índice de suicídios na ponte Newton Navarro. Em outras produções, a ideia de aprisionamento, de abandono e do grito inaudível do próprio espírito do rio pedindo ajuda.
Segundo Estrela, o objetivo da exposição é dar visibilidade a essa relação com os elementos naturais da cidade que muitas vezes são esquecidos, como se não fizessem mais parte de nossa história, apesar de estar em nosso dia a dia. "As pessoas não só param de ver, mas também não existem muitas políticas públicas que dão visibilidade ou que cuidam desses bens para que a comunidade se sinta conectada. É um trabalho que vai contando as narrativas, as experiências vividas nesse manancial", acrescenta.
A exposição surgiu da ideia de usar o mesmo tema para trabalhar três disciplinas. Corpo e Espaço, com performances; Produção tridimensional II, com instalações e construção de objetos; e Tópicos em arte contemporânea II, na qual foi realizada a reflexão sobre a expansão do rio para além do geográfico.
Pelo menos duas referências foram base para a proposta: o projeto Margens, de Guilherme Wisnik, que usa os rios do Brasil como ponto de partida para produções artísticas, e o artigo do professor Rubenilson Teixeira, que relaciona o Rio Potengi com a cidade de Natal.
Faz parte da ideia questionar a relação dos rios com os centros urbanos, já que muitos desses mananciais fazem parte da fotografia geográfica, embora, por vezes, não apareçam, pois ali estão apenas como um cenário da cidade. "Existem maneiras de entrar em contato com o rio, mas, muitas vezes, ou por causa do crescimento da cidade, isso não acontece", reforça Estrela.
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