Audiência pública debate Intolerância religiosa na Assembleia Legislativa

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A Assembleia Legislativa teve audiência pública, nesta sexta-feira (25), para debater a intolerância religiosa. A deputada Isolda Dantas (PT) esteve à frente do debate. A audiência reuniu deputados, fiéis de religião Cristã e a maior parte do público oriundo das religiões descendentes da África.

"É uma obrigação nossa fazer essas repetições para quebrar preconceito", destacou Isolda Dantas. A parlamentar faz parte da Frente Parlamentar em Defesa dos Povos e Comunidades Tradicionais.

O deputado estadual Francisco do PT que também faz parte da frente disse que não é de hoje que vivemos situações de intolerância. "Infelizmente nesses últimos tempos no Brasil a intolerância tem ganhado forças. Já chegamos ao absurdo de agressão física", relatou o parlamentar

Também membro da Frente Parlamentar, o deputado Souza (PHS), destacou a luta pela igualdade também na religião e afirmou que estará junto com os membros da frente para lutar pela Lei 10.639, que torna obrigatório o ensino da história e da cultura africana e afro-brasileira nas escolas e a lei para que a UERN torne obrigatório o componente curricular Relações Étnico-raciais nas licenciaturas da instituição.

Na ocasião a liderança religiosa do Candomblé, o Sacerdote do ilê Axé Dajô Obá Ogadó de Extremoz, Babá Melqui de Xangô, falou de sua felicidade de estar na Casa Legislativa tendo a oportunidade de falar em nome do Candomblé. "Estamos hoje em um momento histórico, onde aqueles que aprovam as leis estão nos ouvindo. Isso se apresenta como a luz de um farol de solidariedade e luta. O Estado brasileiro se determina como laico, mas só no papel, porque a nossa religião não tem espaço. Não é respeitada. Diante da lei do nosso país somos todos iguais. O que esperamos é que vocês construam leis que defendam os povos de religiões africanas", disse Melqui.

O Sacerdote do Centro de Umbanda Maria Padilha das 7 encruzilhadas, Pai Magno de Xangô, destacou que ainda existe esperança, mesmo em meio a tanta "barbaridade" cometida pela intolerância. "Um momento como esse é um sinal de mudança. Eu acredito que nós vamos sentir o efeito dessa audiência. Eu acredito no Estado laico, nosso direito e faço um apelo para que os nossos direitos sejam cumpridos".

Mãe Lúcia de Naná, representante religiosa da Jurema, cobrou explicações para o tratamento desigual que sua religião sofre. "Ninguém exige que as igrejas coloquem acústico e as que colocam é porque tem dinheiro. Mas nós somos obrigados a para colocar tratamento acústico. Eu nunca vi a polícia batendo nas portas das demais igrejas. Por que só batem na porta dos terreiros?", questionou a Mãe Lúcia.

Emanuel Paiva, advogado Popular, que atua em trabalhos sobre intolerância religiosa contra religiões afro-ameríndias, falou das várias formas que o preconceito se manifesta para os membros das religiões. "Nós percebemos dentro das escolas, ambientes que apenas valorizam as religiões cristãs e que praticam a intolerância com as demais. Pesquisas já revelaram que em várias escolas não tinham alunos de religião africanas, claro que lá tem, mas estão mascarados por medo", disse.

Falando em nome da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte, a professora, Eliana Anselmo da Silva, coordenadora do Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros da UERN, expôs ações que o núcleo vem realizando para a inclusão das religiões africanas. Uma delas é a realização de aulas de campo, visitas aos terreiros para os alunos conhecerem a religiosidade, assim como a realização de rituais dentro da universidade.

Dentre todos os questionamentos e as reivindicações para acabar com a intolerância religiosa, a carência educacional foi apontada o principal problema para se educar sobre todas as religiões. O professor Luiz Gomes da Silva Filho, da Universidade Federal Rural do Semiárido, e a representante do Fórum religioso do RN, Márcia Henrique Cirino Azevedo, destacaram a importância de professores formados e especializados nas religiões africanas para que atuem dentro do ambiente escolar. "Como professor eu estou aqui para falar que a escola é um dos lugares mais agressivos para a religião africana. Não informam, não contam nossa história e tem uma estrutura perversa para quem não segue seus padrões", disse Luiz Gomes.

A representante do governo do Estado, Maria Luiza Tonelli, justificou que as religiões africanas são as mais afetadas pela intolerância, graças ao racismo. "A intolerância existe com todas as religiões. Mas o racismo ainda é forte no nosso país e isso faz com que as religiões africanas sejam as mais afetadas. Sabemos da grande importância das leis. Mas precisamos, principalmente, mudar a sociedade, precisamos educar a sociedade", destacou Maria Tonelli, secretária-adjunta do Estado das mulheres, da juventude, da igualdade racial e dos direitos humanos.

Kezauyn Miranda Alquoc, integrante da base de pesquisa do núcleo de estudos e pesquisas em educação gênero e diversidade, falou que a intolerância também está presente na saúde. "Eu sou enfermeira e sei que não existe um cuidado com os conhecimentos populares. É preciso entendimento para não confundir o que não é saudável com o que é ritual, conceito de religião", relatou a enfermeira.

Por fim, Rogério Borges, da comissão de direitos humanos da OAB-RN, disse que diante do cenário atual, foi discutido e proposto para que se formasse um núcleo de combate a intolerância religiosa. "A partir desse núcleo estamos buscando o encontro com pessoas de várias religiões e abrindo espaço para todas", disse.

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